Fotos

terça-feira, 28 de junho de 2011

Livro Didático: Um Ponto Cego Para a Inclusão

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências humanas e sociais
Escola de Educação
Departamento de Fundamentos da Educação
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Especial

Flávio Garcia de Morais

Livro Didático: Um Ponto Cego Para a Inclusão
Rio de Janeiro
2010
FLÁVIO GARCIA DE MORAIS

LIVRO DIDÁTICO: UM PONTO CEGO PARA A INCLUSÃO

Trabalho de Conclusão do Curso de pós-graduação apresentado à Unirio/Cead como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação Especial.
Orientadora: Ms. Rosimere Mendes Cabral.

Rio de Janeiro
2010
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo refletir, utilizando como ponto de partida o relato de pessoas cegas, sobre a formatação do livro didático. O estudo teórico traz uma discussão sobre o tema, baseada em autores como: Freitas; Rodrigues (2007); Brasil (1993); Gatti Júnior (2004) e Ventura (2007). Caracteriza-se como um estudo de caso que tentou construir um novo olhar para o livro didático, tendo como fundamento para esta realidade, experiências vividas por profissionais desprovidos de visão, a respeito desse recurso. Concluo com esse trabalho que não há uma configuração de protesto ou de medida opositora a um fator que existe, mas o que acredito ter sido alcançado com esta pesquisa foi a possibilidade de reavaliar a situação atual da utilização do livro pela pessoa cega o que, certamente favorecerá o repensar sobre esse instrumento que precisa ser observado como um elemento inclusivo e de uso universal, com igualdade de acesso a todas as pessoas.
Palavras-chave: livro didático, cegueira, funcionalidade.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5
I- REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................................................................6
1.1 Livro didático 6
1.2 Deficiência visual 8
1.3 Sistema Braille 8
Figura I: Sistema Braille – leitura 9
1.5 CAP – Uberaba – Núcleo de produção Braille 11
1.6 O Livro Falado - Mecdayse 17
II - DESENVOLVIMENTO..............................................................................................................18
2.1 A pesquisa 18
2.2 Contexto de pesquisa 19
2.3 Participantes 19
2.4 Composição do material documentário 19
2.5 Análise do material documentário 19
III - RELATO COMENTADO 21
PROPOSIÇÕES.............................................................................................................24
CONCLUSÕES..............................................................................................................25
REFERÊNCIAS............................................................................................................26

INTRODUÇÃO

O livro didático já é objeto de pesquisa de alguns pesquisadores como Milla, (2008). Entretanto ainda são poucas as pesquisas relacionando o livro didático, suas adaptações e a pessoa com deficiência visual. Nesse sentido, acreditamos que esta pesquisa possa trazer reflexões relevantes sobre a subjetividade de adaptadores e leitores em relação à descrição das imagens para o cego, pois para um adaptador essas imagens podem exprimir uma realidade que para o leitor pode não ser a mesma, pois a capacidade de interpretação de ambos pode se diferenciar.
Nosso interesse pelo tema surgiu a partir de nossa prática como revisor de textos em braille no Centro de Apoio Pedagógico para atendimento às pessoas com deficiência visual – CAP – Uberaba. A razão pela qual adotamos esse assunto como objeto de pesquisa, nasceu da preocupação de como o deficiente visual interage com todo o conteúdo do livro didático, em decorrência das gravuras, figuras, gráficos, mapas, tabelas, fotografias etc. que integram uma parte considerável desse instrumento importante de auxílio na educação escolar. Por isso, sob nossa visão, o livro didático, não representa para o deficiente visual uma fonte segura de consulta, pois as suas ilustrações impedem, inquestionavelmente, uma compreensão integral do conteúdo. Portanto, desenvolver este trabalho irá possibilitar uma reflexão, considerando o ponto de vista de pessoas que utilizam o livro adaptado.
Nossos objetivos com o desenvolvimento dessa pesquisa consistem em: relatar experiências de pessoas com deficiência visual em relação à utilização do livro didático; analisar criticamente o Livro didático em braille; descrever e analisar criticamente o processo de adaptação do livro didático em braille. Relacionadas a essas questões, são duas as perguntas de pesquisa que procuraremos responder após o desenvolvimento do trabalho: 1) Como ocorre a formatação do livro didático em braille? 2) Como é o processo de adaptação do livro didático para o braille?
Para alcançar nossos objetivos e responder às questões apresentadas anteriormente, utilizaremos a metodologia de Pesquisa Estudo de caso, a partir do contar de uma experiência relatada por cinco pessoas cegas que participarão do presente estudo e responderão aos seguintes questionamentos: “1 - Como o revisor vê o livro didático?
2 - Você considera o livro didático como um instrumento de total eficiência para a pessoa cega?

3 - No momento das descrições das imagens, por parte dos adaptadores, você consegue compreender a ilustração descrita?
A participação dessas pessoas permitirá compor sentidos de diferentes experiências em relação à adaptação do livro didático para o cego.

I – REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Livro didático

Freitas e Rodrigues (2007, p. 2) inspirado em Stray (1993, p. 77-78) afirmam que: “o livro didático pode ser definido como um produto cultural, composto, híbrido, que se encontra no “cruzamento da cultura, da pedagogia, da produção editorial e da sociedade”.
Ainda segundo Freitas e Rodrigues (2007), na atualidade, o livro didático não é o único instrumento utilizado no contexto escolar, pois outros instrumentos coexistem juntamente com ele: quadros, mapas, enciclopédias, materiais audiovisuais, softwares didáticos, CD-Rom, Internet, dentre outros, entretanto, o livro didático ainda ocupa um papel central.
Freitas e Rodrigues (2007) acrescentam que antes da invenção da imprensa, os livros já existiam, mas não eram comuns, os estudantes universitários, antes do século XV produziam seus cadernos de textos. Com a invenção da imprensa, os livros didáticos passaram a ser produzidos em série e a partir de então passam a ser considerados como “fiéis depositários das verdades científicas universais” (GATTI JÚNIOR, 2004, p. 36) e talvez por esse motivo, passaram a ser reconhecidos como recurso indispensável na trajetória escolar do estudante.
Freitas e Rodrigues (2007) argumentam sobre como o livro didático chegou à escola:
A trajetória para que os livros didáticos, dicionários, obras literárias e livros em Braille chegassem até as escolas brasileiras teve início em 1929, com a criação de um órgão específico para legislar sobre políticas do livro didático, o Instituto Nacional do Livro (INL). Seu objetivo era contribuir para a legitimação do livro didático nacional e, conseqüentemente, auxiliar no aumento de sua produção. O primeiro passo havia sido dado, mas demorou algum tempo para seguir adiante, pois apenas em 1934, no governo do presidente Getúlio Vargas, o INL recebeu suas primeiras atribuições, como editar obras literárias para a formação cultural da população, elaborar uma enciclopédia e um dicionário nacionais e expandir o número de bibliotecas públicas (FREITAS; RODRIGUES, 2007, p. 2-3).

A partir de 1938, conforme Freitas e Rodrigues (2007), o livro didático recebe, por meio do decreto-lei 1.006 o primeiro espaço dentro do contexto nacional, com o intuito de nortear ações políticas que pudessem proporcionar a essas obras, um tratamento específico, visando estabelecer controle e diretrizes que viessem a fortalecer e garantir a sua presença dentro das escolas em nosso país, cabendo ao professor escolher qual seriam os livros adotados para o seus alunos (art. 5º do Decreto-Lei nº 8.460, de 26/12/45.
Freitas e Rodrigues (2007) destacam que a partir de 1966, o Ministério da Educação por meio de um acordo firmado com a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), permitindo assim a criação da Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático (COLTED). O objetivo primordial dessa comissão era coordenar a elaboração, edição e distribuição do livro didático, gerando assim, sérias discussões, pois ao MEC e ao Sindicato Nacional de editores de livros, caberia a execução e todo o controle ficaria sob a responsabilidade da USAID, fato que provocou a extinção do acordo entre os órgãos citados anteriormente. Vindo como órgão substituto em 1971, o INL – Instituto Nacional do Livro, sendo também extinto. Posteriormente veio a Fundação Nacional de Material Escolar, que também não teve vida longa. Pouco tempo depois surge a Fundação de Assistência ao Estudante – FAE, que não apresentando resultados satisfatórios, foi substituída pelo FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, que tinha por finalidade captar recursos de ordem federal e com a participação dos Estados, tendo objetivamente a responsabilidade com a aquisição do livro didático que seria distribuído gratuitamente às escolas públicas do país, porém, os recursos eram insuficientes para atender toda a demanda e a proposta de solução foi a exclusão das escolas municipais, bem como o afastamento do estado dessa relação pecuniária.
A ação centralizadora por parte do governo federal foi motivo de críticas por tratar-se de uma política assistencialista e autoritária. Como proposta de solução, resolveu-se assegurar a participação do professor e a inclusão de todas as séries do ensino fundamental, assegurando assim, um tratamento igualitário e revestido de justiça social. Freitas e Rodrigues (2007) destacam que:

O atual Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) veio substituir o PLIDEF em 1985, com a edição do decreto nº 91.542, de 19/8/85. Ele instituiu alterações significativas, especialmente nos seguintes pontos (FNDE, 2008; CASSIANO, 2004): •garantia do critério de escolha do livro pelos professores; •reutilização do livro por outros alunos em anos posteriores, tendo como conseqüência a eliminação do livro descartável; •aperfeiçoamento das especificações técnicas para sua produção, visando maior durabilidade e possibilitando a implantação de bancos de livros didáticos; •extensão da oferta aos alunos de todas as séries do ensino fundamental das escolas públicas e comunitárias; •aquisição com recursos do governo federal, com o fim da participação financeira dos estados, com distribuição gratuita às escolas públicas. Das inúmeras formas experimentadas pelos governantes para levar o livro didático à escola durante 67 anos (1929-1996), só com a extinção da FAE, em 1997, e com a transferência integral da política de execução do PNLD para o FNDE é que se iniciou uma produção e distribuição contínua e massiva de livros didáticos. O PNLD tem como foco o ensino fundamental público, ncluindo as classes de alfabetização infantil, e assegura a gratuidade dos livros. De acordo com o programa cada aluno tem direito a um exemplar das disciplinas de língua portuguesa, matemática, ciências, história e geografia, que serão estudadas durante o ano letivo (FREITAS; RODRIGUES, 2007, p. 4-5).

Muitas foram as pesquisas envolvendo o livro didático, entretanto é importante destacar a necessidade de desenvolver trabalhos relacionados à adaptação do livro didático para o cego. Como estaremos considerando a cegueira, é importante definir o que vem a ser cegueira e baixa visão.

1.2 Deficiência visual

Conforme Brasil (1993) a pessoa é cega quando há perda total ou resíduo visual mínimo, sendo necessário aprender o método Braille como meio para leitura e escrita ou ainda a utilização de outros métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais para o processo de ensino e aprendizagem.
Já a pessoa com baixa visão é aquela que apresenta resíduos visuais em grau que permitam ler textos impressos à tinta, desde que sejam empregados recursos didáticos, adaptações e/ou equipamentos especiais, excluindo-se nesses casos erros de refração (miopia, hipermetropia, astigmatismo) facilmente corrigíveis pelo uso adequado de lentes. A baixa visão não é, portanto, melhorada por lentes, tratamento médico ou cirúrgico (BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, 1993).

1.3 Sistema Braille

O sistema braille é um sistema de leitura e escrita em relevo, lido através do tato e constituído por seis pontos distribuídos em duas colunas verticais de três pontos cada uma. É composto por 63 combinações diferentes que possibilitam a escrita literária, exatas, musicografia, bem como de outros sinais. Foi criado por Louis Braille (1825), um jovem cego francês e passou a ser utilizado no Brasil a partir 1854.

Figura I: Sistema Braille – leitura

O sistema braille foi trazido para o Brasil por um jovem cego, brasileiro, que estudou no Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, cujo nome era José Alvares de Azevedo, e que teve a oportunidade de fazer uma demonstração ao imperador do nosso país, Dom Pedro II, conseguindo lhe sensibilizar e, este por sua vez, implantou O Instituto dos Meninos cegos, atual Instituto Benjamin Constant, na cidade do Rio de Janeiro.
É indiscutível a importância do sistema braille na vida das pessoas cegas, pois ele se constitui um marco fundamental no acesso dessas pessoas à educação no mundo, pois se não existisse um sistema de leitura e escrita acessível a um determinado grupo da sociedade, esse grupo seria excluído do ensino acadêmico.

1.4 Adaptação do livro para o cego

A França foi o primeiro país a reconhecer o braille como sistema de leitura e escrita para os cegos. No ano de 1854, Joseph Guadet distribuiu exemplares em braille nos seguintes idiomas: Inglês, francês, italiano, alemão, latim e espanhol. Tendo sido o primeiro passo de expansão desse sistema de leitura e escrita para a parte do mundo.
Um após outro, os países do mundo reconheceram os benefícios do braille. Um congresso mundial ocorrido em Paris, em 1878, reconheceu que o braille é um sistema adequado de leitura e escrita para cegos. Em 1890, Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Inglaterra, Espanha e Escócia adotaram o sistema braille em escolas para cegos. Somente em 1917, os Estados Unidos recomendaram que o braille fosse utilizado em seus estabelecimentos de ensino e, em 1949, sob a liderança das Nações Unidas, o trabalho de adaptação da literatura para o braille foi ampliado para mais de duas centenas de línguas e dialetos em todo o mundo. Assim, a utilização do sistema braille tornou-se universal, conforme Cerqueira e Lemos (1999).
O Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual no Estado de Minas Gerais é fruto de uma luta iniciada no ano de 1999, a partir do momento em que esse programa começou a ser divulgado como uma experiência de sucesso no Estado de São Paulo, sendo adotado pela Secretaria de Educação Especial do MEC como um referencial no atendimento educacional às pessoas com deficiência visual. A proposta era de que o MEC atuasse em parceria com os governos que quisessem o CAP fornecendo equipamentos diversos, principalmente, computadores e impressoras Braille, enquanto que estes cuidariam dos recursos humanos e da manutenção dos CAPs instalados em suas respectivas localidades. O CAP/MG somente veio a ser concretizado com sua inauguração em 2000. Desde então, o CAP/MG vem atuando junto a professores e alunos direta ou indiretamente envolvidos com a educação de Deficientes Visuais.
Constitui finalidade do CAP oferecer às pessoas cegas e de baixa visão o acesso ao conteúdo programático da escola comum, em nível de igualdade, e ainda oportunizar o contato direto dessas pessoas com a literatura, a pesquisa e a cultura, através da utilização de recursos tecnológicos de ponta e da adaptação do livro em Braille e em tinta. O MEC/SEESP, com este projeto, objetiva municiar este público com serviços e recursos adequados à educação de DV.
O CAP, para atingir seus princípios básicos de suplementação e complementação pedagógicas, deve estabelecer uma ação conjunta entre órgãos governamentais e não governamentais, que por meio de forças bilaterais possam alcançar alternativas que venham propiciar aos deficientes visuais melhores oportunidades junto a nossa sociedade.
É importante reconhecer que antes da existência do referido centro os deficientes visuais lutavam para garantir seu espaço, mas os recursos que contavam para facilitar esse desafio eram praticamente inexistentes, como por exemplo, a não disposição de obras didáticas ou literárias para lhes auxiliar em sala de aula. Era como se eles estivessem em uma batalha sem armas, totalmente desprotegidos, contando apenas com a boa vontade daqueles que possuem visão e que tinham disponibilidade para lhes proporcionar suporte, portanto, não podemos negar que o citado centro trouxe grandes benefícios na vida dos deficientes visuais, sendo considerado a nosso ver, a segunda conquista mais importante na vida das pessoas com deficiência visual em sua história, pois a primeira foi o sistema braille.
O Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual – CAP caracteriza-se como uma unidade de serviços de apoio pedagógico e suplementação didática ao sistema de ensino, com envolvimento de órgãos governamentais, não-governamentais e com a participação da comunidade. Pode funcionar em espaços físicos comunitários, como escolas, bibliotecas públicas, centros integrados, escolas especializadas e outros.

1.5 CAP – Uberaba – Núcleo de produção Braille

O Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às pessoas com deficiência visual – CAP foi criado a partir de um trabalho conjunto da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e do Desporto, das entidades ligadas à União Brasileira de Cegos – UBC, da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais – ABEDEV, do Instituto Benjamim Constant – RJ e da Fundação Dorina Nowill para cegos – SP.
O CAP é administrado por uma diretora eleita pela comunidade escolar, ao qual se encontra vinculado, juntamente com o colegiado da referida escola, e/ou por delegação de competência designada aos coordenadores dos núcleos e sua manutenção é de responsabilidade do Governo do Estado.
É de competência do CAP:
• Garantir às pessoas cegas e de visão subnormal o acesso ao conteúdo programático desenvolvido na escola regular;
• Acesso à literatura, pesquisa e cultura;
• A utilização de equipamentos da moderna tecnologia (informática);
• Impressão de livros em Braille, ampliação de livros e textos, adaptação de mapas e outros recursos necessários ao processo de ensino-aprendizagem do aluno com deficiência visual;
• Intercâmbio de material didático pedagógico com outros CAPs;
• Serviço de apoio pedagógico e suplementação didática ao sistema de ensino com suporte em sala de apoio;
• Viabilizar cursos de capacitação a profissionais de acordo com orientação de oftalmologista e necessidade da escola;
• Realizar estimulação visual em subnormais, usando técnicas e recursos pedagógicos na busca de alcançar melhor eficiência ou desempenho visual;
• Realizar treinamento de recursos ópticos de acordo com orientação de oftalmologista e necessidade da escola;
• Realizar avaliação funcional da visão em pessoas com baixa visão, a partir do encaminhamento de oftalmologistas e unidades escolares;
• Orientar famílias e professores da rede regular de ensino, de acordo com a necessidade da demanda de DV;
• Garantir a participação das famílias na confecção e adaptação de material bem como a sua convivência e envolvimento constante nas atividades escolares;
• Trabalho de socialização entre educandos e profissionais;
• Desenvolver projetos que promovam a independência no setor da informática;
• Elaborar e executar projetos interdisciplinares em parceria com oficinas de AVD, Artes, Esculturas, Pintura, Música e Educação Física;
• Incentivar através de projetos a dinâmica da biblioteca escrita e falada bem como a brinquedoteca;
• Apoiar as ações de conscientização e sensibilização comunitárias realizadas por entidades ou órgãos governamentais e não governamentais, e desenvolvimento de ações que otimizem a integração social da pessoa cega e de visão subnormal;
• Disponibilizar visitas em ações comunitárias;
• Viabilizar encontros com oftalmologistas para solicitar encaminhamento daqueles que necessitarem de recursos para melhorar sua função visual e/ou dos que possuírem ausência de visão.

O CAP/MG compõe-se de quatro núcleos:

1- NÚCLEO DE TECNOLOGIA – em que há profissionais capacitados para realizar avaliação funcional da visão e treinamento de equipamentos tecnológicos específicos e estimulação visual.
2- NÚCLEO DE APOIO PEDAGÓGICO – neste núcleo há profissionais, com habilitação específica, para apoiar professores que atendem alunos incluídos no ensino comum (ensino fundamental, ensino médio e superior), no sentido de oferecerem subsídios para a real inclusão do aluno na classe comum. Os professores do núcleo de apoio didático pedagógico também ministraram cursos de capacitação aos profissionais que atendem alunos Deficientes visuais e que pertencem à rede regular de ensino.
3- NÚCLEO DE PRODUÇÃO BRAILLE – neste espaço há professores com capacitação para adaptação de material e domínio em softwares específicos para produção Braille, digitadores com jornada compatível com as normas de saúde, profissionais capacitados em encadernação e arquivo, revisores de textos Braille, operadores de thermoform e máquina fotocopiadora para ampliação de textos em tinta.
4- NÚCLEO DE CONVIVÊNCIA – este núcleo conta com professores com habilitação e perfil para atendimento especializado, cursos de informática e também capacitar as famílias dos alunos, por meio de cursos específicos, para que esta possa acompanhar melhor a trajetória escolar de seus filhos.

Atribuições dos profissionais de cada núcleo

1- Núcleo de Tecnologia Avançada
• Realizar avaliação funcional da visão para alunos de baixa visão, do ensino especial e regular.
• Treinar o uso de equipamentos específicos.
• Uso de recursos auxiliares de visão subnormal (lupas de mesa, lupas iluminadas, lupas manuais, treinar telessistemas);
• Orientar o uso de circuito fechado de TV (aparelho de alto poder de contraste e ampliação);
• Redigir relatórios, orientar professores do ensino regular e família.
• Realizar estimulação visual, promovendo o uso eficiente do resíduo visual.
• Definir exercícios de estimulação visual e orientar o professor estimulador.
Professor estimulador da visão residual
• Produzir material de acordo com exercícios a serem aplicados para estimular a visão residual;
• Programar horários de atendimento de acordo com a necessidade e disponibilidade dos alunos;
• Realizar estimulação visual indicada;
• Executar treinamento para a utilização de lupa e telessistemas, bem como de auxílios não ópticos.

2 Núcleo de Apoio Didático Pedagógico

• Apoiar profissionais da rede regular de ensino para atendimento aos alunos integrados no ensino regular;
• Orientar para utilização adequada de recursos didáticos adaptados;
• Orientar na produção e utilização de recursos para aprendizagem de matemática, física, química, geografia e desenho;
• Elaborar e coordenar cursos de capacitação na área de deficiência visual.

3- Núcleo de Produção Braille
 Adaptar textos e livros didáticos em Braille, ampliados, impressos e sonoros para biblioteca;
 Coordenar a adaptação de materiais com a finalidade de complementação didática, tais como: mapas, gráficos, tabelas e outros.
 Receber e estabelecer prioridades para que o núcleo atenda dinamicamente a todas as solicitações oficiais de unidades de atendimento específico e outros.
 Intercambiar lista de livros adaptados com outros CAPs com a finalidade de troca e agilização no atendimento.
 Fazer download de livros e textos pela Internet.
 Executar as configurações das impressoras Braille e softwares.

3.1.1- Digitadores:
 Digitar fielmente textos e livros adaptados;
 Imprimir material em Braille e ampliado;
 Scanear textos e livros para adaptação;
 Organizar acervo em disquetes e CDs;
 Digitar e imprimir trabalhos, avaliações e exercícios em Braille e tipos ampliados.

3.1.2- Encadernador arquivista:
 Encadernar e arquivar livros em Braille e ampliados produzidos;
 Encadernar e encaminhar edições solicitadas, mantendo o arquivo da secretaria da Escola sempre atualizado;
 Auxiliar na confecção de capas para o livro falado e escrito.

3.1.3- Revisor:
 Revisar textos, livros, provas e trabalhos adaptados em Braille e matrizes de thermoform;
 Revisar textos falados.

3.1.4- Operador de thermoform e máquina copiadora ampliada:
 Fotocopiar textos, livros didáticos e provas de forma ampliada.
 Confeccionar matrizes em relevo para thermoform;
 Reproduzir material em relevo.

4- Núcleo de Convivência:
 Favorecer a convivência, através de encontros periódicos com o objetivo de trocar experiências integrando usuários, famílias e voluntários;
 Desenvolver pesquisa para elaboração de jogos adaptados, materiais pedagógicos, maquetes e outros, junto aos usuários, voluntários e famílias;
 Elaborar projetos para cursos e workshop;
 Organizar espaço para expressão artística cultural, jogos de lazer, cursos e workshops;
 Capacitar profissionais e alunos em softwares específicos;
 Elaborar e coordenar projetos ligados à biblioteca e à brinquedoteca.

4.1.2- Auxiliar de serviços de biblioteca e recepção:
 Recepcionar e encaminhar pessoas que busquem prestação de serviços na Escola e Instituição;
 Reproduzir, organizar e encaminhar os livros falados à biblioteca especializada;
 Auxiliar na organização e atendimento na biblioteca especializada, audioteca e filmoteca;
 Orientar os professores da Biblioteca quanto à recepção de visitas, livro falado e impresso;
 Auxiliar na organização e atendimento da brinquedoteca.

Para transcrever para o braille os livros utilizados por alunos cegos que freqüentam escolas comuns, os livros são encaminhados pelas respectivas escolas com um ofício de solicitação de serviço. Há profissionais que fazem a transcrição e adaptação, utilizando para tanto um programa específico (Braille Fácil). Posteriormente, os revisores de texto em braille avaliam o serviço e efetuam suas sugestões visando a melhoria da qualidade em relação aos usuários das obras adaptadas. Vale ressaltar, entretanto, que o livro solicitado não é reproduzido em braille de uma única vez em sua totalidade, o mesmo é adaptado para o sistema por capítulos e uma vez concluído é encaminhado de volta para a unidade solicitante por meio de ofício e em caso de a solicitação ter origem em outra cidade, utiliza-se o serviço de postagens em correios, por meio de cecograma ao destinatário.

O primeiro passo para a adaptação do livro didático consiste em scanear o conteúdo, depois o mesmo é organizado pelo profissional responsável e em seguida é digitado e/ou organizado para adaptação por este mesmo indivíduo e conseqüentemente é remetido para a primeira impressão. Cumprida esta fase, como já foi dito anteriormente, o material é passado para o serviço de revisão que pode ou não sugerir alterações, sendo o arquivo devolvido ao responsável para que procedam às mudanças sugeridas e após isso, o material é submetido a uma segunda impressão, ou impressão final. Cumprida essa etapa, o arquivo vai para o serviço de acabamento, onde é encadernado, encapado, embalado e despachado para os usuários.
É dado um tratamento semelhante aos livros ampliados. Estes são xerocopiados ou scaneados quando necessitam de melhor ampliação e/ou aumento do contraste.
Um dos grandes entraves ainda encontrados na adaptação do material é o fato de que estes nem sempre são solicitados com a antecedência necessária para o desenvolvimento do trabalho antes do início do ano letivo ou de sua utilização em época adequada, pois muitas vezes o material chega após o término de sua utilização pelo professor.

1.6 O Livro Falado - Mecdayse

Conforme Machado (2009): “a nova tecnologia Mecdaisy consiste em um conjunto de programas que permite transformar qualquer formato de texto disponível no computador em texto digital falado. A ferramenta está disponível gratuitamente no portal do ministério”. Ainda de acordo com a autora, o Software é composto de sintetizador de voz (narração) e instruções de uso em português brasileiro. Permite ainda converter qualquer texto em formato Daisy e, após a conversão, é possível manusear o texto sonoro de maneira semelhante ao texto escrito. “O Mecdaisy possibilita que o usuário folheie, consulte o índice, pesquise, faça comentários”.
Por meio da ferramenta Mecdayse fica fácil para a pessoa com deficiência visual ler qualquer texto disponível na internet, o programa em si permite navegabilidade bem simples, permitindo a qualquer pessoa escrever livros ou consultar obras digitalizadas.
Registramos como características fundamentais dessa tecnologia a possibilidade do material pesquisado poder ser adaptado em áudio, caracteres ampliados e até mesmo impressão em braille. Esses elementos constituem inegavelmente uma conquista de grande vulto para essas pessoas, pois assegura assim uma grande autonomia e individualidade por parte dos leitores de obras disponíveis no computador e que possuam seqüelas visuais.

O Mecdaisy descreve figuras, gráficos e qualquer imagem presente no documento, completa Martinha. Ela informa que o conjunto de programas ainda vem acompanhado de uma metodologia de produção de livros em formato digital acessível. Assim, a tecnologia permite a leitura de qualquer texto disponível no computador e a produção de livro digital (MACHADO, 2009).

Ao avaliar toda a sistemática dessa nova tecnologia, não podemos negar e nem sermos demagógicos a ponto de dizer que não houve uma melhora com a modernidade que a informática nos mostra, porém é importante analisar como essa ferramenta de trabalho pode efetuar uma leitura de uma imagem, seja ela de que natureza for e qual será a interpretação que o usuário poderá obter após a emissão da mensagem pelo instrumento de leitura acima referido, pois algumas gravuras colocadas no livro didático são de difícil descrição e muitas vezes estas obrigam, com a interpretação da imagem, a obtenção da resposta, inibindo assim o aluno a raciocinar sobre o tema estudado. Outra questão que achamos por bem mostrar é que em face da comodidade do Mecdayse e toda facilidade que o mesmo envolve, o aluno cego provavelmente vai optar pela leitura em áudio, descartando assim, a leitura braille, fator que ao nosso ver pode interferir de maneira contundente no processo de escrita desses elementos. Acreditamos que quem não lê, dificilmente escreve corretamente.

DESENVOLVIMENTO

2.1 A pesquisa

Para alcançar nossos objetivos e responder às questões apresentadas na introdução, utilizamos a metodologia de Pesquisa Estudo de caso, a partir do contar de uma experiência relatada por cinco pessoas cegas que participam do presente estudo e responderam aos seguintes questionamentos:
1 - Como o revisor vê o livro didático?
2 - Você considera o livro didático como um instrumento de total eficiência para a pessoa cega?
3 - No momento das descrições das imagens, por parte dos adaptadores, você consegue compreender a ilustração descrita?
A metodologia de pesquisa a ser utilizada é, de acordo com Ventura (2007) um estudo de caso, pois essa metodologia tem interesse por casos individuais ou de pequenos grupos. Este estudo está centrado em um pequeno grupo de cinco indivíduos.

2.2 Contexto de pesquisa

O contexto desta pesquisa denomina-se núcleo de produção braille e já foi detalhado no referencial teórico. É um espaço que tem por objetivo realizar a transcrição de obras e livros didáticos em braille, bem como a produção de material ampliado. Somos responsáveis por 239 municípios em Minas Gerais, trabalhando com escolas da rede estadual, com atendimento preferencialmente do ensino fundamental de alunos cegos ou baixa visão dessa unidade de ensino.

2.3 Participantes

Um grupo de 5 revisores de textos em braille, sendo todos cegos total. Esse grupo ocupa essa posição dentro do núcleo em face de serem professores e brailistas, terem se alfabetizado por esse sistema e darem continuidade a suas trajetórias escolares utilizando desse método, para tanto os mesmos prestarão depoimentos com relação ao livro didático e a sua eficiência para as pessoas cegas.

2.4 Composição do material documentário

O material será composto por relatos registrados a partir de 3 questionamentos:
1 - Como o revisor vê o livro didático?
2 - Você considera o livro didático como um instrumento de total eficiência para a pessoa cega?
3 - No momento das descrições das imagens, por parte dos adaptadores, se vocês consideram essa descrição uma boa forma de compreender?

2.5 Análise do material documentário

Tentaremos analisar criticamente o relato dos participantes. A interpretação dos dados precisa considerar:

Os objetivos da pesquisa, seus limites e um sistema de referências para avaliar quais dados serão úteis ou não. Somente aqueles selecionados deverão ser analisados. O pesquisador deve definir antecipadamente seu plano de análise e considerar as limitações dos dados obtidos, sobretudo no referente à qualidade da amostra, pois se a amostra é boa, há uma base racional para fazer generalizações a partir dos dados. Em caso contrário, deve apresentar os resultados em termos de probabilidade. É importante também utilizar categorias de análise derivadas de teorias que sejam reconhecidas no campo do conhecimento. Isso faz com que a interpretação dos dados não envolva julgamentos implícitos, preconceitos, opiniões de senso comum etc. (VENTURA, 2007, p. 385).

Acreditamos que nossas interpretações encontram-se imersas em nossas experiências e refletem nossas crenças, mas tentaremos nos libertar da insatisfação pessoal para analisar criteriosamente a praticidade do livro didático para o elemento cego e para aquele que possui visão. Será que seria a mesma coisa? Uma questão a ser pensada em trabalho posterior.

RELATO COMENTADO

Nesta etapa da pesquisa, estarei apresentando primeiramente os relatos dos participantes sobre os questionamentos apresentados a eles e já registrados anteriormente e, posteriormente, tecerei comentários sobre esses relatos.

Participante I

1 - Como o revisor vê o livro didático?
O livro didático é um valioso instrumento de consulta do estudante. Imaginar um estudante sem livro seria imaginar uma sala de aula sem professor. Como pessoa cega, a única restrição que faço é que acho que o livro didático é muito poluído, ou seja, tem muitas ilustrações e isso para nós acarreta algumas dificuldades.
2 - Você considera o livro didático como um instrumento de total eficiência para a pessoa cega?
O livro didático é totalmente eficiente para quem enxerga, porém para nós a sua eficiência considero restrita.
3 - No momento das descrições das imagens, por parte dos adaptadores, você consegue compreender a ilustração descrita?
Sim, em muitos casos é possível entender claramente o que está sendo descrito, a ressalva que faço é quando a descrição não fica clara em face que a figura mostrada significa a resposta da pergunta e esse momento torna-se para nós muito delicado.

Participante II
1 - Como o revisor vê o livro didático?
Vejo as obras didáticas com significado importante na vida escolar, porém imagino que se tivesse uma forma que ele fosse menos visual facilitaria significativamente a nossa vida escolar.
2 - Você considera o livro didático como um instrumento de total eficiência para a pessoa cega?
A sua eficiência no nosso caso talvez seja questionável, porque muitas vezes me sinto fora do conteúdo estudado por não ter a visão para interagir com as suas ilustrações.
3 - No momento das descrições das imagens, por parte dos adaptadores, você consegue compreender a ilustração descrita?
Esse é o grande problema do livro didático e acredito que essa situação deverá ser repensada, pois as descrições podem ser compreensíveis, mas quando for possível descrever.
Participante III
1 - Como o revisor vê o livro didático?
Vejo o livro didático com muita satisfação, pois hoje podemos contar com esse recurso, o que antes não acontecia, porém entendo que essa obra de estudo deveria alcançar plenamente todos os usuários dela. Como revisor observo que nem sempre os cegos conseguem entender integralmente o conteúdo em virtude das questões que ele traz e que são quase que exclusivamente visuais.
2 - Você considera o livro didático como um instrumento de total eficiência para a pessoa cega?
De acordo com a resposta anterior, não podemos considerá-lo tão eficiente assim no nosso caso, entendo ser necessário que haja algumas mudanças na sua formatação.
3 - No momento das descrições das imagens, por parte dos adaptadores, você consegue compreender a ilustração descrita?
É um momento angustiante para os revisores cegos quando as descrições não conseguem ser elaboradas ou quando feitas, superficialmente, pois é muito comum que a resposta do conteúdo estudado esteja ligada diretamente à descrição da imagem, sem contar quando esta imagem não possui elementos para assegurar uma descrição clara.

Participante IV
1 - Como o revisor vê o livro didático?
Entendo que o ensino fundamental é uma etapa importante na vida do aluno e este por sua vez precisa ou exige um tratamento escolar extremamente responsável e o livro didático brasileiro para nós cegos, ele deixa a desejar.
2 - Você considera o livro didático como um instrumento de total eficiência para a pessoa cega?
Sua eficiência dentro da nossa realidade não é um elemento que merece destaque de forma ampla, pois é muito comum que a gente se sinta um peixe fora da água quando deparamos com desenhos, mapas, tabelas, fotos e outras imagens que eu não posso compreender totalmente.
3 - No momento das descrições das imagens, por parte dos adaptadores, você consegue compreender a ilustração descrita?
Eu me imagino, nesse momento, como se eu estivesse próximo de alguém que estivesse se deslumbrando com as cores do arco-íris, sem manifestação verbal nenhuma. A única postura que devo adotar numa situação dessas é aguardar que ele conclua sua observação e volte a dialogar comigo. Quando a gente não entende uma imagem, mesmo sendo informado sobre ela, devo afirmar que é extremamente constrangedor, acho que essa situação merece uma reflexão mais profunda.

Participante V
1 - Como o revisor vê o livro didático?
Analisamos o livro didático, dentro da nossa realidade, como sendo ainda um instrumento de exclusão escolar, pois ele não me permite que eu o entenda plenamente. Essa condição ainda é um privilégio daqueles que enxergam.
2 - Você considera o livro didático como um instrumento de total eficiência para a pessoa cega?
Não posso afirmar que ele seja para mim tão eficiente assim, pois nem tudo que ele contém eu consigo ter pleno acesso, fator que restringe o seu alcance na minha avaliação.
3 - No momento das descrições das imagens, por parte dos adaptadores, você consegue compreender a ilustração descrita?
No momento em que deparamos com as figuras, fotos e outros, me sinto impotente, isso nos incomoda profundamente, pois aquilo que está sendo mostrado lá, em alguns casos, eu não consigo atingir por completo e isso realmente para nós é profundamente desagradável, pois uma obra que tem por objetivo informar e orientar pessoas, deveria alcançar a todas indistintamente, sem restrições. Não somos contra a ilustração, pois as crianças que enxergam dela necessitam, mas acho que elas não deveriam ser exploradas com tanto rigor visual, pois essa situação termina nos deixando de fora dessa oportunidade.

Diante dos relatos somos conduzidos a pensar que o livro didático deve se constituir em objeto de estudo de muitos pesquisadores, para que alertas nesse sentido sejam feitos e que isso provoque um repensar de toda essa situação. Investigando com uma certa dedicação os depoimentos acima evidenciados, não podemos nos omitir, pois o livro didático consiste em um recurso que não oportuniza a todos os alunos o mesmo grau de aproveitamento. Nós alunos cegos ainda ficamos às margens porque nem tudo que ele traz em seu bojo é possível ser aproveitado por nós. Assim, portanto, sem paixão, procurando me isentar de toda insatisfação pessoal, devemos reconhecer que o livro didático para o cego tem um significado, mas para quem enxerga, o seu significado pode ser muito diferente.

PROPOSIÇÕES

Sugerimos que as gravuras no livro didático não venham grafadas no interior do livro e sim em um suplemento adicional e que o aluno seja conduzido a esse suplemento como o objetivo de estimular o seu raciocínio por intermédio da visão.
Outra sugestão seria que os autores dos livros didáticos evitassem que as respostas do conteúdo estudado estivessem ligadas diretamente à questão visual da imagem, pois esse fator é o que mais dificulta para as pessoas cegas, pois aquilo que é extremamente visual, para nós que não enxergamos é inacessível.

CONCLUSÃO

Ao escolher o tema da pesquisa, procurei analisar a situação por um ângulo considerado prático, observando então nesse caso, o livro didático como um instrumento indispensável na vida do estudante e o seu alcance integral em relação ao seu conteúdo para as pessoas cegas. Nessa tônica de raciocínio, procurei observar com muito cuidado e sem exagerar, como essas pessoas poderiam trabalhar a questão das imagens existentes nos materiais didáticos. Ressalto, entretanto, que o fato de ter disponível o livro em braille em nossas mãos, não podemos de forma nenhuma negar a importância desse valioso benefício, pois antes nem isso tínhamos. Assim sendo, então, verifiquei que as ilustrações constantes nessas obras representa uma boa parte do conteúdo estudado e muitas das vezes essas imagens não são possíveis de ser interpretadas e descritas pelo adaptador, ficando portanto, o usuário cego desse material, sendo excluído do conteúdo que está vinculado a esta parte estritamente visual.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria da Educação Especial. Subsídios para a formulação da política nacional de educação especial. Brasília, 1993.

FREITAS, N. K.; RODRIGUES, M. H. O livro didático ao longo do tempo: a forma do conteúdo.

GATTI JÚNIOR, D. A escrita escolar da história: livro didático e ensino no
Brasil. Bauru, SP: Edusc; Uberlândia, MG: Edufu, 2004.

LEMOS, E. R.; CERQUEIRA, J. O sistema Braille no Brasil. Revista Brasileira para Cegos. Rio de Janeiro: Benjamin Constant, 1999. (Digitalizado).

LEMOS, Edison Ribeiro et al. Louis Braille: sua vida e seu sistema. 2 ed. São Paulo:
Fundação Dorina Nowill para cegos, 1999. Disponível em:
>http://www.ibc.gov.br/media/common/Downloads_Livros_Louis%20Braille%20sua%20vida%20e%20seu%20sistema.txt<. Acesso em 03.03.2009. MACHADO, M. C. Programa amplia inclusão de pessoas com deficiência ao converter texto em áudio. Disponível em: >http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13786:programa-amplia-inclusao-de-pessoas-com-deficiencia-ao-converter-texto-em-audio&catid=205<. Acesso em 11/08/10. _____________. Nova tecnologia torna livros acessíveis a alunos cegos. Disponível em: >http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=/index.php?option=com_content&view=article&id=13782:nova-tecnologia-torna-livros-acessiveis-a-alunos-cegos&catid=205&Itemid=86)<. Acesso em 10/08/10.
VENTURA, M. M. O Estudo de Caso como Modalidade de Pesquisa. Revista Brasileira SOCERJ: Rio de Janeiro, ed. set/out, 2007, pp. 383-386.

Nenhum comentário:

Postar um comentário